Há um ano, nesse mesmo blog, tratei sobre o plano “A ponte para o futuro”, e o tratei sob o turbilhão de fatos que acometiam a economia brasileira naquele instante. Bom, a economia e a política brasileiras continuam inundando as mídias com novos fatos a cada hora e, recentemente, descobriu-se que nesse fundo do poço chamado 2016 havia um porão escondido. E nada impede, muito pelo contrário, que haja outro e outro e outr…. Pois bem, com um ano do plano, podemos refletir sobre sua execução e sobre o ideário que ainda insiste em basear suas práticas.
No início, com o frescor fúnebre que perfumava o governo Temer, reformas como a do ensino médio e a do gasto público foram aprovadas, e o discurso neoliberal, pobre e sem lastro com a realidade, foi comprado pela grande maioria do congresso. Outras, como a da previdência e a trabalhista, por influência da aguda crise política, ainda não puderam ser sancionadas. Mas de fato, qual a racionalidade por trás da proposição dessas reformas? Por que, ao contrário do discurso do governo, a economia ainda não se recuperou?
Tenhamos em mente um conceito: TELEOLOGIA. O dicionário define esse termo como sendo a ciência que explica os fenômenos pelo fim a que aparentemente são destinados. Então, pode-se dizer que uma coisa é teleológica quando sabemos o fim que ela vai ter, como numa tragédia grega, por exemplo. Édipo, através de uma profecia, sabia que mataria seu pai e se casaria com sua mãe. Assim, toda a história leva a esse caminho, não importa o que Édipo faça.
Pois bem, “A ponte para o futuro” é tão teleológica quanto a história de Édipo. Porque a equipe de Temer já sabia que, partindo de um 2016 terrível em todos os aspectos macroeconômicos e, aprovadas as reformas trabalhista, previdenciária, tributária, do gasto etc. chegaríamos ao “futuro”. Ao futuro idealizado pela equipe econômica. Nada garante que chegaremos lá. Tanto é que, um ano após a proposição do plano e com toda a tentativa de tornar o ambiente positivo para a retomada do investimento e do emprego, os indicadores macro nos mostram o contrário.
A inflação, a menina dos olhos de Temer, está projetada para ser abaixo da meta apenas porque tivemos um crescimento de -3,8% em 2015 e -3,6% em 2016. Claro, ninguém compra nem vende, logo, não há força para aumento de preços, só o contrário. O crescimento de 1% do último trimestre em relação ao anterior só foi possível graças a uma mudança de metodologia do IBGE, que inclusive está em xeque após desconfianças de beneficiamento do governo.
Assim, não se sabe se essas reformas colocarão o país, para usar uma expressão de Temer, “nos trilhos novamente”. No imaginário de sua equipe, o futuro é totalmente moldado: A+B=C. Ou seja, PEC do teto dos gastos + Reforma Trabalhista + Reforma da previdência + Reforma Tributária = Novo Milagre Econômico. Esses profissionais se esquecem que a economia é feita por indivíduos, que são afetados por instituições e se tais reformas não encontrarem aderência no nível micro, ou seja, se os trabalhadores não comprarem a reforma trabalhista, por exemplo, ela simplesmente fracassará, porque está sendo feito de cima pra baixo. “A ponte para o futuro” trata o Brasil como um grande laboratório: é como se os modelos matemáticos e econométricos, testados nos softwares, agora estivessem prontos para serem testados em pessoas, mas desconsideram Lava Jato, Fachin, Janot, grampos telefônicos. Desconsideram que o Brasil é feito por brasileiros.
Iago